domingo, 22 de junho de 2008

PERNAMBUCANIDADE



Seis horas antes do jogo ela se reúne com o grupo precursor. Orienta e repete o que eles, (alguns já com quase trinta anos de batalhão) estão cansados de saber:


- Verifiquem as entradas! Se há entulhos que possam ser usados como armas! Montem a divisão de torcida! Cuidado com a postura! Etc. e mais etc.


É mais um jogo. Normal. Rotineiro. A doutrina de Choque é relembrada e a preparação é sempre a mesma: cuidados, alertas, orientações, cuidados, cuidados, cuidados...


A tropa. Ah, a tropa... Já calejada, espera a distribuição das patrulhas. Sargento fulano: entrada da Angustura. Sargento Beltrano: Rua Manoel de Carvalho. Cabo Cicrano: Divisão de torcida. São em média 80 jogos por ano, entre Brasileirão e o Campeonato Pernambucano da primeira divisão. Todos devem ser perfeitos. É igual ao trio de arbitragem: se não aparecer funcionou a contento.


Três horas antes do jogo o capitão comandante do policiamento desloca o restante da tropa para o estádio. Chama a Aspirante e transmite as ordens finais. Cuidados, cuidados, cuidados...


Com pouco menos de um ano na unidade, a aspirante também já sabe suas atribuições. Aprendeu rápido. Já sabe que deve agir com segurança, equilíbrio, rapidez e com senso de justiça inerentes a quem decide num gabinete com ar condicionado. Não interessa. Acertou-se, agiu com bom senso. Errou-se, faltou maturidade, técnica e bom senso.


Tudo bem, essa é a profissão que ela escolheu desde que se entende por gente, quando envergava a farda azul do Colégio da Polícia Militar. Filha de um Praça da PM, estudou e conseguiu realizar o sonho de fazer o Curso de Formação de Oficiais e escolher o Batalhão de Choque para servir.


Começa o jogo. Apesar da aparente normalidade, pensa: hoje ta diferente. O clima não está bom! De repente, um ser desgovernado, destemperado, desesperado, sai do gramado, salivando e chutando uma “bola” em forma de garrafa e apontando seus dedos médios para a torcida da casa, que revoltada com aqueles gestos clama uma resposta. Cadê a Polícia? Tem que prender! Marginal!


Segundos são suficientes para a pronta resposta. Ela se aproxima e pensa: vou fazer a condução até o vestiário e em seguida será conduzido o “profissional” até a delegacia. Cometeu dois delitos. Não posso ser omissa.


- Me acompanhe!


- Não toque em mim! Não vou ser conduzido! Sai daqui sua polícia de merda!!!


Opa desacato: a partir daí, todo mundo viu. Tentativa de imobilização, fuga, jogadores partindo em socorro ao companheiro, seguranças no vestiário, confronto iminente, saída rápida e segura, presidente de clube obstruindo trabalho da polícia, desacatos, delegacia, denuncias absurdas de agressões e finalmente julgamento e condenação.


Durante o entrevero já se noticiava nas emissoras do Sudeste, o “absurdo” cometido pela polícia pernambucana. Terra de ninguém, atrasada, futebol de segunda, só podia dar nisso!


Durante toda a noite e na manhã seguinte as resenhas anunciavam, já estava eleita a culpada. Nossa briosa PMPE e em especial o Batalhão de Choque. Trabalho de quase vinte e oito anos jogado na lama pela imprensa do Sul/Sudeste, atribuindo à falta de preparo e a incompetência da polícia como causa para o que se viu nos Aflitos.


Não faz mal pensávamos nós, estamos acostumados à falta de reconhecimento, injustiças e denuncias vazias. Entretanto, com a enxurrada de acusações não só a aspirante, bem como toda a tropa, passou a ter um sentimento de revolta de como estavam sendo tratados. O exagero passou a nos incomodar. O alento vinha daqui!A nossa imprensa que estava presente ao estádio e acompanhou tudo de perto, começou a falar o que nos interessava: a verdade!!


Pela primeira vez se viu uma quase unanimidade de opiniões, comentários e relatos em favor da PM. Logo se percebeu que os estragos poderiam atingir não só a corporação, mas também o Náutico e a própria Federação Pernambucana de Futebol. A ferocidade dos meios de comunicação nacional, em particular as emissoras de televisão, com relação à incapacidade de serem realizadas partidas de futebol no estado de Pernambuco, acendeu a luz vermelha de alerta para as reais intenções para com o futebol do nosso estado.


Tentativa de tirar a possibilidade de sermos subsede da copa do mundo? Inveja da atual situação dos clubes pernambucanos na séria A do Brasileiro? Tentativa de impedir a realização da final da Copa do Brasil na Ilha do Retiro?


De repente, e de forma natural, começou a defesa coletiva de todos os pernambucanos. Imprensa, políticos, empresários e torcedores revoltados com os absurdos propagados pelos “colonizadores” como se aqui não houvesse tradição histórica, cultural, artística, política e no futebol.


Volta então à cena a nossa protagonista, a Aspirante Lúcia Helena, ainda sob os efeitos da ressaca da tumultuada noite, descobre em sua página de um site de relacionamentos, quase vinte mil recados contendo mensagens de cunho racista e de preconceito pelo fato de ser mulher, negra, policial e nordestina. O choque inicial deu lugar a uma postura impressionante de superação e demonstração de equilíbrio que demonstrou tanto no campo de futebol, quanto no desenrolar da ocorrência, bem como nas diversas entrevistas que concedeu ao longo dos últimos dias. As agressões que sofreu foram compartilhadas pela população pernambucana como se cada ofensa atingisse a alma de todos nós.


Pouco a pouco, a aspirante vai aparecendo nos noticiários locais e de forma tranqüila narra os fatos apresentando a verdade tão desprezada pela imprensa de fora. Aí vem então a oportunidade que todos os que fazem o futebol de nosso estado esperavam ter. Um programa de audiência nacional, com uma apresentadora curiosa com o fato de a nossa aspirante ter efetuado a prisão de uma “celebridade” carioca e talvez na tentativa de expor as “deficiências” e “incompetências” de nossos tão “despreparados” policiais, resolve entrevistar Lucia Helena. Finalmente, a oportunidade de expor aos desinformados o que se passou de fato. Programa voltado para um público diferenciado, poderia ter abordado o fato de ela ser mulher e buscar curiosidades da sua profissão. Não foi assim, inesperadamente, a apresentadora começou a zombar do nosso sotaque, no que foi prontamente corrigida por Lucia Helena. Começou bem. Pensei. Para depois num sentimento de admiração e orgulho ouvir durante mais de dez minutos a aspirante discorrer de forma brilhante sua história verdadeira.


Nas ruas o reconhecimento, em cada mensagem que recebemos, em cada telefonema, onde os choqueanos passam palavras de congratulações a serem levadas a aspirante. Lavou a nossa alma de policiais, acredito que tenha também lavado a alma de todos os pernambucanos que, gostando ou não de futebol, tem orgulho de ser Leão do Norte e de ter, nesse episódio, despertado mais uma vez o sentimento de PERNAMBUCANIDADE.


Ten Cel LUÍS - Comandante do Batalhão de Polícia de Choque de Pernambuco


Autor


sábado, 21 de junho de 2008

Não ao preconceito!!


É incrível como uma simples ocorrência policial teve uma enorme repercussão como aconteceu com a prisão do Jogador André Luiz do Botafogo durante a partida NÁUTICO X BOTAFOGO no último dia 1º Junho do corrente ano.
Mais incrível ainda foi a verificação explicitamente divulgada do preconceito existente de algumas pessoas que vivem no "Sul Maravilha" para com a região Nordeste. Sem contar no milagre que alguns conseguiram fazer vendo "coisas" onde não existiam...
Como algumas pessoas que fazem a imprensa, seja televisiva, radiofônica, escrita e até mesmo pela web enxergaram violência, truculência, abuso de autoridade, despreparo, etc. por parte da Polícia Militar de Pernambuco - não de Recife como muitos desavisados, para não adjetivar de outra forma, noticiaram - mas consideraram normal as atitudes do jogador do Botafogo.
Como alguém entra em terras alheias, agride, ofende toda uma torcida, toda uma população, todo um povo, toda uma região!!!
Eu, particularmente, gostaria muito que alguém me mostrasse nas imagens amplarmente divulgadas onde se encontra a violência, a truculência e/ou o abuso de autoridade por parte dos policiais. A violência, a agressividade, o descontrole, a emotividade na situação foi verificada sim, nas ações do jogador. Isso é claro!! Ele consegue se desvencilhar, com toda a sua força, de dois policiais após ter recebido voz de prisão por ter praticado o desacato a uma autoridade constituída, enquadrando-se ainda em resistência e desobediência. Quem é que pode dizer "POLICIAL DE MERDA" apontando o dedo para o rosto de uma policial militar e ficar impune?? Nem mesmo os que têm imunidade parlamentar cometeriam tal despautério. Disparate maior ainda aconteceu depois, quando o Presidente do Clube tentou impedir o trabalho da PM, tentou obstruir um ato legal que estava sendo desencadeado, sem contar na forma como ele se reportou aos policiais presentes na situação e se comportou diante de outras autoridades constituídas presentes que verificaram todos os fatos.
Bastante paradoxial taxar a atitude da Polícia Militar como truculenta, dizer que os protagonistas de espetáculos futebolísticos não podem ser tratados como marginais mesmo tendo histórico num estádio de São Paulo de um jogador argentino que foi ALGEMADO pela Polícia Militar daquele Estado acusado de ofender um jogador brasileiro. Atitude esta que foi aplaudida pela mesma imprensa que hoje veicula negativamente a ação da Polícia Militar de Pernambuco. Por que esta diferença??? Percebam que o jogador argentino não tinha agredido um torcedor, feito gestos obcenos para a torcida, nem desacatado o policiamento... mesmo assim, saiu ALGEMADO do campo SIM!!!! E a PM foi exaltada por isso!
Como podem pessoas que estudaram para serem jornalistas não terem um pingo de ética e começarem a chamar uma policial militar de "GORDA", "FEIA", "BARANGA", "CHEIA DE CELULITE". Independentemente de ser uma profissional de segurança pública, é uma mulher! É um ser humano! Merece respeito!
Se em seus estados famílias não podem ir ao campo para assistir a uma partida de futebol, aqui em Pernambuco podem!! Se em seus estados a torcida visitante não é bem assistida, aqui em Pernambuco é! Que o digam os corinthianos que vieram até Recife para visualizar o espetáculo da final da Copa do Brasil. Policiais Militares, amigos nossos, já tiveram oportunidade de ir ao Sudeste fazer parte de uma torcida visitante e têm relatos horríveis para contar...
Quantos já morreram em seus estádios?? Quantas tragédias já aconteceram?? Engraçado, ninguém divulga...
Estou falando da imprensa, mas se fosse aqui me reportar a alguns "cidadãos" que me remeteram mensagens totalmente preconceituosas pelo fato de ser mulher, de ser negra e de ser nordestina, teria que escrever um livro, e mesmo assim, ele seria censurado, tamanha baixaria que me foi enviada!
É doloroso, realmente, para algumas pessoas do Sudeste, vislumbrar a possibilidade de um time pernambucano e conseqüentemente nordestino, ter nas mãos o TROFÉU DA COPA DO BRASIL e fazer parte dos times que disputarão a TARÇA LIBERTADORES DA AMÉRICA.
Com tudo isso, o que causa ainda mais indignação é o fato de culparem o Náutico pelo acontecido. Triste, realmente triste...
Os clubes "terceirizam" o serviço da Polícia Militar justamente por não terem condições de realizar a segurança dos torcedores que vão assitir as partidas. Quem determina se os vestiários ficam abertos ou não é a Federação Pernambucana de Futebol. Que culpa teve o Náutico???!!!!!! É chato para o alguns que o Clube Náutico CAPIBARIBE - e não CAPIBERIBE como muitos divulgaram - esteja em posição privilegiada no Campeonato Brasileiro.
Impugnar um tópico da defesa do Náutico é normal, assim como é "normal" aceitar que uma denúncia de um órgão que deveria ser imparcial esteja repleta de frases emitindo juízos de valor, ao ponto de apresentar em suas linhas uma frase do tipo: "O estádio dos aflitos faz jus ao nome." É "normal", também, ter uma opinião formada mesmo antes de possuir em mãos o documento primordial para que se possa oferecer uma denúncia no âmbito desportivo.


Todos esses acontecimentos serviram para aguçar o sentimento de PERNAMBUCANIDADE. As pessoas que já tinham orgulho de serem pernambucanas hoje têm ainda mais, pois a injustiça tem o dom de unir as pessoas injustiçadas. O orgulho de sermos nordestinos aumentou ainda mais. Pra quem pensa que no Nordeste só tem analfabetos, comedores de cactus, sede e miséria, é bom fazer uma reflexão da importância que tem essa região para o desenvolvimento do BRASIL. Refletir nas pessoas que foram muito importantes para a nação e tiveram seu berço nessa rica região. Indico também a leitura sobre a riqueza do Sertão. Tenham certeza que não ficarão com tanta sede diante da rica vegetação sertaneja.


Finalizo agradecendo as pessoas que enxergaram a verdade dos fatos. Aos escalões superiores da PMPE, a Secretaria de Defesa Social, aos Deputados que compõem a Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, aos Vereadores que fazem a Câmara Municipal de Recife e de Olinda, a Federação Pernambucana de Futebol, a imprensa pernambucana, que, infelizmente não possui abertura suficiente para divulgar o seu pensamento para todo o país, enfim, para toda a população pernambucana, afinal, nunca se tinha ouvido um grito de guerra tão alto e tão forte como foi ouvido no jogo da Final da Copa do Brasil na Ilha do Retiro, quando milhares de pessoas bradaram "AH!! É PERNAMBUCO!!!"
PARABÉNS PERNAMBUCO!!! Unido ainda mais repudiando o preconceito, a discriminação e a injustiça. "PERNAMBUCO, IMORTAL, IMORTAL!!!"